
O tiro esportivo paralímpico é um exemplo claro de como o esporte pode ser um instrumento de superação, disciplina e inclusão.
Mais do que uma competição de precisão e controle, essa modalidade representa um espaço de protagonismo para atletas com deficiência que, por meio da técnica apurada e do foco absoluto, conquistam seu lugar entre os melhores do mundo.
Presente nos Jogos Paralímpicos desde Toronto 1976, o tiro esportivo adaptado passou por uma série de transformações ao longo das décadas, tanto no número de categorias quanto na participação feminina, nas regras e na presença de países como o Brasil.
A modalidade segue em constante evolução, sempre amparada por princípios de equidade, adaptação e alto desempenho.
Primeiros disparos: a história paralímpica da modalidade
A estreia do tiro esportivo nos Jogos Paralímpicos ocorreu em 1976, em Toronto, com disputas exclusivamente masculinas.
Em 1980, em Arnhem (Holanda), as mulheres passaram a competir, inclusive em provas mistas, o que marcou um avanço importante na diversidade da modalidade.
Nos anos seguintes, os formatos se alternaram: em 1984 (Nova York-Stoke Mandeville) e 1988 (Seul), as competições seguiram com categorias masculina, feminina e mista, ainda que limitadas.
Curiosamente, em 1992, nos Jogos de Barcelona, não houve categoria feminina isolada, apenas disputas mistas e masculinas.
A partir de Atlanta 1996, o programa voltou a incluir as três formas de disputa (masculina, feminina e mista), padrão que se manteve até Paris 2024.
A jornada brasileira no tiro esportivo paralímpico
O Brasil participou pela primeira vez do tiro esportivo paralímpico em Toronto 1976, na estreia da modalidade no programa do evento, mas ficou ausente por 32 anos da modalidade até Pequim 2008, quando o atleta Carlos Henrique Procopiak Garletti representou o país nas provas de carabina. Ele também disputou as edições de Londres 2012 e Rio 2016.
A grande virada, no entanto, começou com o incentivo do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) a partir de 2002, promovendo centros de treinamento e ampliando a prática da modalidade no país. Essa política de fomento resultou em nomes como Alexandre Galgani, que viria a fazer história. Além de Galgani, Débora Campos e Geraldo Rosenthal também representaram o Brasil na Rio 2016.
Em Tóquio 2020, Galgani foi o único representante da delegação brasileira na modalidade. Já em Paris 2024, ele dividiu a missão com Bruno Stov Kiefer, e foi nessa edição que o Brasil conquistou sua primeira medalha no tiro esportivo paralímpico, uma prata histórica.
Alexandre Galgani: da superação à história
Natural de São Paulo, Alexandre Galgani teve sua vida transformada por um acidente aos 18 anos, quando sofreu uma lesão na coluna após mergulhar em uma piscina. Inicialmente sem movimentos nos membros superiores, Galgani passou por um longo processo de reabilitação e reencontrou no esporte uma razão para sonhar.
Apesar de não mexer os dedos das mãos, Galgani desenvolveu técnica e controle suficientes para disputar as provas da classe SH2, voltada a atletas que necessitam de suporte para a arma, por não conseguirem sustentá-la com os braços.
A estreia dele nos Jogos Paralímpicos aconteceu em 2016, e a consagração veio em Paris 2024, com a medalha de prata na prova R5 – carabina de ar 10 metros – posição deitado misto SH2. Ele somou 254,2 pontos, ficando atrás apenas do francês Tanguy de la Forest, que fez 255,4. A japonesa Mika Mizuta completou o pódio com 232,1.
O feito de Galgani coroou mais de duas décadas de dedicação ao tiro esportivo, com treinos intensos — inclusive em um estande improvisado em sua própria casa — e conquistas expressivas no cenário continental, como as medalhas no Parapan de Santiago 2023 e o bronze no Mundial de Lima (2023).
Como funciona o tiro esportivo nas Paralimpíadas
O tiro esportivo paralímpico segue, em essência, as mesmas regras da Federação Internacional de Tiro Esportivo (ISSF), porém com adaptações promovidas pelo Comitê Paralímpico Internacional (IPC), que administra oficialmente a modalidade.
As principais provas são disputadas com pistolas e carabinas de ar comprimido, nas distâncias de 10, 25 e 50 metros. Cada competição exige diferentes posições (em pé, sentado ou deitado), com variação no número de disparos (de 20 a 120) e no tempo de prova (entre 1 hora e 2h30).
Equipamentos e calibres
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Provas de 10m: pistolas e carabinas de ar comprimido, com cartuchos de 4,5 mm.
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Provas de 25m e 50m: pistolas e rifles de perfuração, com projéteis de 5,6 mm.
O alvo utilizado possui dez círculos concêntricos, com pontuação de 1 a 10. A soma dos pontos da fase classificatória e da final define o vencedor. A pontuação máxima é frequentemente alcançada por atletas com altíssimo nível de concentração e domínio técnico.
Classes esportivas: SH1 e SH2
Os atletas são classificados com base na mobilidade dos membros, força muscular e controle do tronco, o que permite que competidores com diferentes tipos de deficiência possam disputar juntos.
Existem duas classes principais:
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SH1 (pistola e carabina): atletas que conseguem segurar a arma sem auxílio.
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SH2 (apenas carabina): atletas que necessitam de suporte para segurar a arma, como no caso de Galgani.
As adaptações incluem mesas, cadeiras e suportes especiais, que garantem a equidade e a performance segura dos atletas durante as provas.
O futuro do Brasil no tiro esportivo paralímpico
A loja Casa Colt, de Buritizal (SP), observa que o avanço técnico da delegação brasileira e a visibilidade alcançada com a prata de Alexandre Galgani projetam um futuro promissor.
O apoio do CPB e o surgimento de novos talentos indicam que o Brasil tem potencial para se consolidar como uma potência também no tiro esportivo paralímpico.
A medalha em Paris 2024 é um marco não só esportivo, mas simbólico: representa a reconstrução de vidas através do esporte e inspira uma nova geração de atiradores com deficiência.
Para saber mais sobre tiro esportivo nas Paralimpíadas, acesse:
https://cpb.org.br/modalidades/tiro-esportivo/
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